Entrevista a Júlio Alves

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Menos de uma semana passado o lançamento no site, conseguimos atingir a marca de 100 likes no Facebook e, para comemorar, nada melhor que uma entrevista com um dos pioneiros do Quiz em Portugal.

Júlio Alves trouxe o fenómeno dos quizzes regulares em português, a coisa pegou, e de que maneira, com dezenas de bares a fazerem quizzes semanais por todo o país.


QP: Iniciaste os quizzes regulares em português há mais de 15 anos, achas que o Quiz em Portugal cresceu muito desde essa altura?

JA: Quando comecei, a necessidade de alguém começar a fazer quizes em português era tão evidente que nunca senti que tinha tido uma grande ideia, simplesmente tentei arranjar forma de passar mais uma noite divertida com os meus amigos e quem me conhece sabe que eu sempre levei o meu divertimento, e de quem me rodeia, muito a sério.

Naquela altura existiam talvez umas dezenas de pessoas que sabiam o significado de “Uma noite de Quiz”, agora quando me dirijo a um grupo de clientes e digo que é noite de Quiz já quase toda a gente sabe de que é que eu estou a falar e até já nem têm receio de experimentar, isto e as centenas de pessoa que semanalmente jogam Quiz em Lisboa são as provas mais evidentes do crescimento desta atividade. Crescimento esse que não consegui sozinho, mas mentiria se dissesse que não sinto algum orgulho.


QP: Na altura eras o único, tinhas sempre casa cheia - numa dimensão que hoje não vejo em lugar nenhum -, sentes nostalgia desse tempo?

JA: Tenho muitas saudades principalmente dos tempos do Cha Cha Cha onde se passaram episódios de que muita gente ainda se lembra, no Bar Quiz já era demais, eu, mesmo com ajuda, (Obrigado Fred e Catarina) demorava perto de uma hora para revelar os resultados, o prémio começou a ficar muito grande e isso desvirtuou o jogo que começou a ficar cada vez mais difícil para acomodar os “gigantes” do Quiz. Atualmente, claro que não é muito gratificante fazer jogos para duas equipas, apesar de eu nunca me recusar a fazer o jogo nem que seja para duas pessoas, mas ainda prefiro ter uma noite com 20 ou 30 jogadores a divertirem-se comigo do que uma casa muito grande e muito cheia onde já não consigo realmente comunicar com todas as equipas.


QP: Há quizes demais em Lisboa ou ainda há espaço para todos?

JA: Há uns 4 ou 5 anos achava que isto estava a esgotar-se mas continuaram a aparecer novos jogadores e novos organizadores que permitiram o regular crescimento da atividade, o que ainda hoje me surpreende. Agora estou convencido que no centro de Lisboa a oferta já se começa a equilibrar com a procura, apesar de, em tempos de crise económica, um serão a jogar Quiz ser uma alternativa bastante interessante tanto para os participantes como para os anfitriões.


QP: Achas que conseguiste acompanhar os tempos e cativar os mais jovens para os teus quizes? Conseguiste manter os mais antigos nos teus quizes?

JA: Durante algum tempo os jogadores eram sempre os mesmos que simplesmente começaram a ter mais escolha e consequentemente jogavam mais noites por semana, fenómeno que evidentemente não podia durar para sempre. Tento manter-me longe da tentação de andar a puxar os jogadores habituais para as minhas noites, não gosto de ser melga e prefiro que as pessoas venham aos meus jogos porque gostam ou simplesmente porque gostam da minha companhia, evidentemente que os amigos dão sempre uma ajuda quando começo a organizar num local novo, mas é muito gratificante entrar num bar para apresentar um jogo e aperceber-me de que fiz 20 ou 30 novos companheiros de divertimento.

Os novos jogadores que têm aparecido nos meus jogos são maioritariamente pessoas entre os 25 e os 40 anos, mas para além da idade são fundamentalmente pessoas que procuram um jogo interessante e divertido sem ser demasiado brejeiro, afinal estamos a falar de um jogo de cultura geral e não de um concurso de anedotas ou de curiosidades de revistas cor-de-rosa.


QP: Ainda tens motivação para pesquisar e criar novas perguntas ou cada vez mais vais ao baú desenterrar um lote de perguntas do passado?

JA: Ainda tenho muita motivação e estou constantemente a criar novas perguntas, mas prefiro fazer um bom jogo com algumas perguntas repetidas do que tentar ser original e resultar nas catástrofes a que regularmente assistimos. Quando estou a fazer um jogo preocupo-me fundamentalmente que seja equilibrado, interessante, divertido e que não tenha respostas erradas. Sabendo que já se fazem quizes há 15 anos e sabendo a quantidade de organizadores, campeonatos de todos os tipos e quizes semanais que existem; tentar ser original e fazer jogos completamente “virgens” parece-me pouco sensato e até quimérico. 


QP: Entre os QM mais activos, és o único que não tem um campeonato de quiz de cascata, não te sentes à vontade com o formato ou os outros chegaram primeiro e saturaram o mercado?

JA: Realmente não sou um pioneiro das Cascatas mas o que me desmotiva de as fazer é muito mais a falta de tempo, uma vez que chego a fazer 5 noites de Quiz por semana, e também saber que há quem o faça melhor e de forma mais organizada do que eu. Faço uma cascata quando me apetece variar ou quando 3 ou 4 equipas me pedem para fazer, aí, junto essas equipas com mais uma ou duas de amigos e tento fazer uma Cascata o mais divertida e descontraída possível.


QP: Tens ideias para formatos novos que cativem as pessoas para os teus quizes? Há algum que possas partilhar?

JA: Já tentei algumas coisas novas, mas neste momento sinto-me muito confortável a fazer apenas os Quizes “clássicos”. Recentemente em parceria com o António Pascoalinho criamos um “Masters” onde juntamos as principais modalidades de Quiz e convidamos as equipas a testar a sua sabedoria em vários formatos. A primeira edição de teste correu bem e percebemos rapidamente com a valiosa ajuda dos participantes que com alguns pequenos ajustes este “Masters” é viável e com muito trabalho e alguma sorte, pode crescer e se tornar algo de que nos poderemos orgulhar no futuro.


QP: O que é que ainda falta fazer no Quiz em Portugal? Tens vontade de estar envolvido caso haja evolução do fenómeno quizístico?

JA: Ainda falta fazer muita coisa mas não me sinto na posição de dizer o quê, acho que a evolução desta atividade vai sempre depender da vontade, sabedoria e capacidade de trabalho de um grupo e nunca de um indivíduo. O Quiz está sempre a evoluir e eu tenho sempre vontade de me envolver em projectos ambiciosos.


QP: Aborrecem-te muito aqueles chatos clássicos que protestam numa boa série de perguntas ou respostas?

JA: Nos meus jogos são cada vez menos, e normalmente não são jogadores habituais, muitas vezes são jogadores que têm alguns maus hábitos criados por organizadores menos cuidadosos e menos habilidoso a gerir reclamações ou a admitir os erros, coisa que eu não tenho escrúpulos em fazer quando a pessoa que reclama o faz com razão e civilizadamente sem interromper o divertimento dos outros jogadores. Quando dou inicio a mais uma noite de Quiz já nem me passa pela cabeça ter um jogador a reclamar aos gritos (claro que alguns são crónicos), evidentemente que ajuda quando um ou outro jogador reclama ruidosamente e fica claro que eu tenho razão, de resto agradeço qualquer correção a uma resposta incorreta ou sugestão que torne a formulação da pergunta mais clara.


QP: Sentes o bichinho de jogar quiz ou chega-te ser QM? Jogarias o quiz de que outro QM?

JA: Claro que gosto de jogar! Prefiro Quiz clássico e não troco uma equipa divertida e com umas miúdas giras por uma super equipa para ganhar o jogo a todo o custo, até sou capaz de optar por uma resposta que tenha menos hipóteses de sucesso por uma mais engraçada. Quando jogo normalmente prefiro os jogos do João Silva e do António Pascoalinho porque, não só já temos muita história juntos como também porque são, sem dúvida, muito competentes.


QP: Vês a tua vida sem o Quiz - pensas na reforma do Quiz?

JA: O Quiz já foi uma noite de copos com os amigos, uma noite de negocio nos meus bares, já foi um passatempo e agora é a minha principal atividade, portanto se crescer e se tornar naquilo que eu gostava que se tornasse, posso pensar em ir mais longe e prolongar a minha relação “profissional” com o Quiz, por outro lado eu posso a qualquer momento envolver-me numa atividade que me afaste do Quiz, na pior das hipóteses agora sei que vou poder manter sempre esta relação e jogar Quiz em várias cidades do país e para alem do prazer do jogo saber que dei alguma contribuição para a disseminação deste jogo tão saudável, que me tem deixado tantas recordações agradáveis e me tem dado a oportunidade de conhecer tantas pessoas fantásticas.